Livro: A Guerra dos Consoles (Console Wars)

Saudações, caros leitores!

Nunca fiz review de um livro, não tenho a menor ideia de como fazer isso. Mas eu sou brasileiro e não desisto nunca preciso falar sobre este que foi um grande companheiro de viagens de ida e volta do trabalho, depois que elas se acabaram se tornando mais longas na minha rotina. Embora não seja um jogo propriamente dito, é um livro sobre videogames, sobre uma geração que marcou época e que eu e muitos de vocês fizemos parte, hoje trago um breve texto sobre A Guerra dos Consoles.

Tomei o máximo de cuidado para não soltar nenhum tipo de spoiler que estrague a experiência de quem pretende ler o livro. Entretanto, como o nível de sensibilidade à spoilers é algo que varia muito de pessoa pra pessoa, se algo incomodar vocês neste post, por favor, avisem nos comentários e eu faço as edições necessárias para que não afete mais pessoas. Já agradeço a todos de imediato e peço desculpas por qualquer coisa!

Bem, como o nome e a imagem da capa já sugere, A Guerra dos Consoles é um livro totalmente baseado na épica guerra dos 16 bits entre a Nintendo, que era praticamente dona do mercado de videogames na América do Norte, depois do enorme sucesso feito pelo NES; e a SEGA, o azarão que havia levado uma surra na geração anterior, mas que, com estratégias de marketing e vendas agressivas, conseguiu em algum ponto até superar a sua rival.

Todas as informações foram tiradas de entrevistas com mais de duzentos ex-funcionários da SEGA e da Nintendo, em especial Tom Kalinske, que na época da guerra era o CEO do lado azul da força. O livro é centrado em suas histórias, então é praticamente uma narrativa sobre o que o ex-líder e seus “soldados” fizeram para transformar a SEGA, considerada na época uma piada na indústria dos jogos, em uma empresa que chegou a liderar o mercado norte-americano durante um bom período, até ser novamente superada pela Nintendo.

O livro foi escrito por Blake J. Harris (Twitter dele aqui), escritor e cineasta que já vem trabalhando em duas adaptações deste livro para o cinema: uma será um documentário baseado na guerra da “Era de Ouro” dos games; e o outro será uma adaptação centrada nas histórias de Tom Kalinske.

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Primeiro ponto que preciso dizer (e sei que é muito óbvio) é que este livro é nostalgia pura. Mesmo que nós brasileiros não tenhamos vivido totalmente a batalha que foi travada nos EUA, algumas coisas que aconteciam naquele país acabavam chegando por aqui cedo ou tarde.

As revistas de videogame da época sempre traziam as novidades quando eram anunciadas, detalhes sobre eventos como a CES (Consumer Electronics Show) e depois a E3 (Electronic Entertainment Expo), então algumas coisas descritas no livro vão trazer boas memórias aos que acompanhavam as publicações da época.

Apesar do centro das atenções ser a era dos 16 bits, o livro começa nos 8 bits, mencionando inclusive o Atari, o Crash, a “ressurreição” dos videogames caseiros com o NES e vai até a chegada da quarta geração, quando o Saturn da SEGA e o Playstation da Sony iniciaram uma nova batalha antes da chegada do Nintendo 64.

Embora o maior foco seja dado nas duas empresas rivais, algumas histórias de outras empresas e seus jogos e acessórios também são contadas, tais como Konami, EA, Rare, entre outras. São contadas histórias de bastidores, diálogos e até outros detalhes que eu não vou mencionar aqui para não estragar a surpresa de quem ainda não leu e pretende. Tem muita coisa que surpreende.

Algumas passagens importantes são contadas com detalhes, como a criação de Sonic, a mudança de Yuji Naka para a SEGA da América, a ideia para o lançamento de Sonic 2, o ressurgimento de Donkey Kong no incrível Donkey Kong Country, como surgiu aquele grito SEGA que ocorria no fim das propagandas, as estratégias da Nintendo para recuperar o mercado perdido entre o intervalo de lançamento do SNES no Japão e nos EUA, entre tantas outras coisas. É muito bacana saber como as ideias e o marketing em cima de cada uma dessas coisas surgiu, eram outros tempos. E com algumas histórias pessoais embutidas, pra aumentar ainda mais a sensação de nostalgia.

Até as estratégias de criação de novos componentes, como os fracassados 32X e SEGA CD do lado azul versus o Super FX e o Mode7 do lado vermelho, porque inventaram o termo Blast Processing e o que ele realmente significa em termos técnicos.

É interessante ver que naquela época existia sim uma guerra e ela não era travada apenas entre os jogadores. Rolavam nas propagandas, nas revistas, em determinadas regiões, em todo lugar. Em especial nos bastidores, já que muita gente vestiu a camisa com vontade e não queria somente superar o lado rival, mas sim esmagá-lo e fazê-lo sumir do mapa. Altas brigas em eventos que reuniam as empresas, provocações diretas durante as feiras de exposição de produtos. Meus caros, rolou muito sangue pixelado nessa geração 16 bits, vocês não fazem ideia de como aconteceu. Mas podem fazer, basta ler o livro!

Tudo isso é contado com uma narrativa dinâmica bastante interessante e que em momento algum fica cansativa. Vira e mexe eu abria um sorriso lembrando de alguma coisa ou imaginando como toda aquela situação descrita aconteceu. Quanto mais você lê, mais você quer ler. Dava até tristeza ver que o ponto tá chegando e que o livro precisaria ser encostado por algumas horas antes da próxima viagem. Aliás, estas viagens se tornaram bem rápidas na época em que estava lendo-o.

Curioso que até mesmo a origem do estigma de jogos infantis da Nintendo é explicado. Muita coisa contada mostra como a Big N daquela época se mantém tradicional e com as mesmas políticas nos dias de hoje.

E do lado azul, como fica nítido que existiam duas SEGAs bem distintas, uma no Japão e outra nos Estados Unidos. Além disso, consegue provar que a SEGA daquele tempo não existe mais, por mais que exista uma legião de fãs que pense o contrário. Digo que depois da leitura, consegui até ter alguns insights sobre o porque da franquia Sonic the Hedgehog ter entrado em declínio (por mais que alguns fãs não enxerguem isso).

Aliás, o fim do livro traz uma tristeza profunda. Primeiro porque conta o fim daquela história épica com a chegada do Playstation e do Saturn (pra mim é doloroso lembrar do final da geração que mais gosto). Segundo porque você com certeza vai ficar com gosto de quero mais, mesmo sabendo tudo que aconteceu depois da chegada da tal geração.

Não posso me prolongar muito mais, qualquer coisa além de tudo isso que escrevi pode se tornar spoiler. Eu sei, o assunto é antigo e pra muita gente não faz sentido todo este cuidado, mas tem quem se incomode e a gente tem sempre que respeitar isso.

Só posso dizer que Console Wars conta processos de criação e explica vários “comos” e “porquês” de decisões da indústria na considerada Era de Ouro dos videogames e que é sempre bom ter conhecimento desses detalhes.

Torço para que os dois filmes em produção tenham bastante qualidade, mas de toda forma vou usar o velho clichê: o livro provavelmente continuará sendo mais interessante por ser uma opção mais detalhada das coisas. Então leiam o livro antes para perceberem os tais detalhes. E voltem aqui pra dizerem o que acharam!

Aliás, quem leu o livro e quiser discutir a respeito das passagens e das minhas opiniões, por favor, usem o espaço dos comentários. Quem ainda não leu tome cuidado com possíveis spoilers que estarão escritos lá.

Eu fico por aqui, recomendando mais uma vez a leitura. Vale demais a pena!

Obrigado a todos por acompanhar este humilde blog, grande abraço a todos e até o próximo post.

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Sobre Gamer Caduco

Apenas mais um cara que nasceu nos anos 80 e que desde que se conhece por gente curte muito videogames, não importa a geração.
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18 respostas a Livro: A Guerra dos Consoles (Console Wars)

  1. Já to com o livro no kindle, só preciso de tempo para ler, agora to mais empolgado ainda…obrigado Caduco, seus post são sempre ótimos cara.

  2. Ulisses 8Bit diz:

    Fiquei com mais vontade ainda de ler Cadu! Acho que já li uns 3 a 5 reviews desse livro e sempre fico enrolando e nunca pego pra ler de vez, kkkkkk. Mas agora é a hora kkkkkkk.
    No caso do filme pode ser muito legal, imagina só, o cinema tem um apelo bem maior que o livro em qualquer lugar do mundo. pode ser aí uma boa chance de atingir um pessoal mais jovem que só joga COD ou Minecraft a pegar gosto pelos games antigos também.

    Já no caso do livro, você pontuou coisas muito legais e quero ver isso o mais breve possível. Acredito que o público alvo do livro seja o pessoal que viveu a época mesmo.

    Abração Cadu!

    • Larga essa enrolação de lado e leia logo o livro, Ulisses! Vc que curte história dos games (deduzo pelos seus posts) vai se divertir bastante com ele. E sim, o público alvo somos nós, os tiozões! huahuahuahuhua
      Eu não tinha pensado nessa chance de atingir o público mais jovem. Espero que os produtores acertem em cheio nos filmes pelo bem da história dos jogos, tem muita coisa dessa época que já é desprezada pelas gerações mais novas.
      Valeu Ulisses!

      • Ulisses 8Bit diz:

        Kkkkkkk vou ler assim que possível Cadu, seu post foi a “letra d´água”. Não vou enrolar mais.:)

  3. drac0nian diz:

    Acabei de ler o livro no ano passado e achei curioso um monte de coisas, se bem que na verdade também nunca tinha pesquisado sobre elas: Os portugueses foram de certa forma responsáveis pela origem da Nintendo, o que motivou Kalinske a entrar na “guerra” não ter sido a Mega Drive, o periférico mais valioso para a SEGA ter sido aquele que menos vendas teve, as origens do Mortal Kombat…

    Enfim, esse livro tem tanta coisa boa que poderia estar aqui um dia inteiro a escrever e, na volta, acabava com outro livro escrito. Também recomendo vivamente a leitura do Console Wars e, quem viveu aquela época de ouro, vai sentir um enorme aperto de Nostalgia.

    Deixo uma dica, enquanto estiverem a ler, metam a tocar uma banda sonora da época, finais dos 80 e inicio dos 90… vai melhorar a esperiência 🙂

    abraço

    • Rapaz, sim, vc está coberto de razão sobre a quantidade de coisa boa que este livro traz. Eu tive que me segurar muito pra não sair falando de todas as passagens interessantes dele no post aqui, realmente daria outro livro. E os comentários seriam outros livros! hahahahaha
      Agora, coincidência ou não, eu li o livro todo ouvindo músicas de jogos, porque é o que eu mais tenho escutado nos últimos tempos. A única diferença é que eu misturei músicas de diversas gerações, até algumas mais atuais (em uma lista totalmente aleatória). Mas lógico que eu reparava quando entrava algo da época, especialmente da SEGA, empresa da qual eu sou fã até hoje.
      Boas memórias guardadas no livro, espero que ele nunca caia no esquecimento, que as gerações novas também tenham conhecimento do quão romântica foi esta época de ouro!
      Valeu drac0nian!

  4. Eu achava que o título era metafórico, mas é literalmente sobre uma guerra, huahuahuhau. À propósito, a atenção especial a Tom Kalinske não deixou o livro “Seguista”, né? Olha o azulzinho no topo da capa, acho que é Seguista, sim… =P (brinks)

    Se souberem fazer direitinho, acho que os documentários vão ser bem daora.O livro parece ser muito interessante, uma pena que meu tempo pra leitura esteja praticamente zero. Eu geralmente prefiro a leitura aos documentários, mas acho que vou ter que esperar pra assistir mesmo (se não demorar muito pra ser lançado, obviamente).

    • Então, Sukita, o livro tem uma carga de informações muito maior do lado da SEGA do que da Nintendo, mas porque é focado no Tom Kalinske. Em momento algum a narrativa puxa sardinha pra um lado ou para o outro, é mais a quantidade de informações mesmo. Reza a lenda que o “Nos Bastidores da Nintendo” (Jeff Ryan) é como se fosse uma leitura complementar deste livro (ou vice-versa), já que ele tem mais a visão do lado vermelho como destaque. É o próximo livro que devo encarar, só estou esperando uma promoção, mesmo que ele seja barato… rs. Na verdade é desculpa pra continuar jogando 3DS no busão! kkkkkkkk
      Se os filmes forem bem feitos, provavelmente vc vai achar um tempo pra ler o livro, tenho plena certeza! rs
      Vale muito a pena, mesmo que eu seja suspeito de dizer isso por gostar tanto da geração, do Tom Kalinske, da SEGA e da Nintendo.
      Valeu Çaçina!

  5. JF diz:

    Hahah, mais um que vai entrar na minha coleção.
    Agora você precisa, P R E C I S A falar do Nos Bastidores da Nintendo.
    Como o próprio título entrega, este é focado na Nintendo, mas conta MUITA coisa de todas as empresas que se relacionaram com ela nesses mais de 35 anos produzindo jogos.
    E o livro é focado em toda a história da empresa. Desde a sua fundação, no século retrasado, ate o lançamento do Wii. Eu já li umas 5 vezes e ate hoje abro em alguma página aleatória de vez em quando entes de dormir para ler uma “passagem”.

    • Opa, blz JF? Cara, eu acabei de comentar justamente sobre o “Nos Bastidores da Nintendo”, ele é meu próximo livro com toda certeza. Eu não sabia que tinha tantos detalhes da relação dela com as outras empresas, provavelmente até da SEGA deve falar (tanto como rival quanto como parceira). Mas não responda isso, não dê spoilers, por favor! kkkkkkkk
      Já vi que vc usa o livro como muita gente usa a Bíblia, não? huahuahuahua… gostei, me parece justíssimo isso!
      Agora, leia sim este livro, vc com certeza vai pirar em algumas passagens que devem ser complementares aos do seu amado livro, as reações da Nintendo contra as coisas loucas que a SEGA fazia e as respostas à altura eram geniais naquela época! hahaha
      Valeu JF!

  6. aki é rock diz:

    Belo post Caduco viu adorei esse livro li de ponta a ponta e a cada capítulo me cativava mais muita coisa me surpreendeu nessa leitura estava muito curioso sobre o que aconteceu naquele tempo que acabei vivendo.

    • Eu passei pela mesma experiência, Rock! Não imaginava tantos detalhes de bastidores, queria que aparecessem mais livros assim sobre nossos queridos games, mas ultimamente só sai livro de Youtuber… meio deprimente, mas é a vida! rs
      Valeu Rock!

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